sábado, 26 de novembro de 2011

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO



Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto velho chorava.
De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei por que contei-as...
Foram sete. Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei. Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.

A PRIMEIRA eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber.
A SEGUNDA a esses eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.
A TERCEIRA distribuí aos maus,                aqueles que somente procuram a umbanda, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.
A QUARTA aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.
A QUINTA chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se olharem bem o seu semblante, virão escrito:
Creio na umbanda, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.
A SEXTA, eu dei aos fúteis que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.
A SÉTIMA, filho notas cmo foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os orixás. Fiz a doação dessa aos médiuns vaidosos, que só aparecem no centro no dia de festa e faltam as doutrinas.
Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair uma lágrima.        

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